opinião

Viva a arte do Carnaval


Dizem que o Brasil é conhecido "lá fora" pelo Carnaval e pelo futebol, embora eu considere que temos bem mais, porém, pouco divulgado. Mas, consideremos que sim, somos famosos pela folia. Aliás, "atrás do trio elétrico, só não vai quem já morreu". Trata-se da festa popular mais celebrada no país, apesar de não ter sido uma invenção brasileira. A história do Carnaval remonta à Grécia antiga e à Roma. A palavra Carnaval é originária do latim (carnis levale), cujo significado é retirar a carne. Relaciona-se ao jejum que deveria ser realizado durante a quaresma. Aos poucos as marchinhas e os sambas foram incorporados nessa festa.

História à parte, podemos dizer que as escolas de samba mandaram seu recado. Estou falando dos desfiles televisionados, de ampla audiência. Você não assistiu? Pois mesmo com a TV desligada, quem não ouviu, ao menos ruídos, sobre os enredos que foram para o sambódromo no Rio de Janeiro? Pois é, os carnavalescos deram (muita) visibilidade às nossas questões sociais e políticas. Provocaram, com suas fantasias, carros alegóricos e comissões de frente, o debate urgente e necessário.

Visto de longe, parece uma festa inofensiva. Mas as letras que ecoavam na avenida já apontavam para um evento mais complexo. Um dos trechos fez tremer as arquibancadas: "Oh pátria amada, por onde andarás? Seus filhos já não aguentam mais! Você que não soube cuidar. Você que negou o amor. Vem aprender na Beija-Flor". O tema não deixava dúvidas: "Monstro é aquele que não sabe amar". Levaram para o asfalto a discussão sobre homofobia, crianças abandonadas, intolerância religiosa, o caos na saúde e o preconceito. Sim, a Beija-Flor literalmente sambou na cara da sociedade, com uma crítica social-política e sobre a falta de respeito e de amor à diversidade. Última a entrar na Sapucaí, arrastou a multidão que assistia ao desfile, cantando em alto e bom tom, como quem confirma: chega!

A verde e rosa, por meio do seu carnavalesco Leandro Vieira, fez uma crítica bem humorada a quem se aproveita da crise econômica para acabar com a alegria da maior festa popular. Mas, sem dúvida, a que mais repercutiu nas redes sociais foi a Paraíso do Tuiuti. Com o enredo "Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?" desfilou estrondosa. Além de trazer uma análise sobre os 130 anos da assinatura da Lei Áurea, certamente ficará eternizada pelo seu carro alegórico que trazia, no alto, um conhecido vampiro. A ala dos "manifestoches" também abalou. Por meio de forte crítica política e social, refez a história do Brasil à luz dos explorados até os dias atuais. Fez o público cantar forte "Não sou escravo de nenhum senhor! Meu Deus! Meu Deus! Se eu chorar não leve a mal. Pela luz do candeeiro. Liberte o cativeiro social".

Outros pontos importantes, tais como a violência, refugiados e mulheres negras vieram à tona. Além dos enredos das escolas, foi o Carnaval do "não é não" (Zeca Pagodinho que o diga!).

Quem sabe, ao refletirmos sobre esses acontecimentos recentes que retrataram o momento que estamos atravessando, olhemos além e façamos a nossa parte. Estude a (real) história do(a) candidato(a) que você vai escolher. Não seja "manifestoche". E não estou falando de partido A, B ou C. Estou apenas dizendo que o currículo do(a) seu(sua) candidato(a) pode demonstrar parte do futuro que queremos para a nação: sem corrupção, que cuide, ao menos, da saúde e da educação do seu povo. Como bem disseram os Titãs: "o povo não quer só comida, o povo quer comida, diversão e arte". Viva a arte do nosso Carnaval!

OBS: Esse texto foi escrito antes do resultado final das vencedoras do Carnaval carioca. Pedi permissão para retomá-lo e parabenizar às grandes campeãs Beija-Flor e Paraíso do Tuiuti! Muito merecido!

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